quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Roberto Carlos - 1961 - Louco Por Você (Columbia 37.171) Restaurado





Lançado entre Julho/Agosto de 1961 (Não se sabe ao certo a data exata), Louco Por Você foi o primeiro Lp de Roberto Carlos lançado pela Colúmbia, produzido por Carlos Imperial, contratado por Roberto Côrte Real em 1960, diretor artístico da gravadora na época. Roberto Carlos foi crooner na Boate Plaza, o que lhe rendeu certa experiência, e "Côrte Real", sabia que ele poderia gravar outros ritmos e estilos musicais diferentes.

O Repertório do disco foi baseado no estilo de 4 cantores de grande repercussão naquela época: João Gilberto (Bossa Nova), Anísio Silva (Bolero), Sergio Murilo (Rock, balada, Cha-Cha-Chá) e Miltinho (Samba) - não por acaso quatro cantores de vozes pequenas, nasais,como a de Roberto Carlos.

Para o diretor artístico Roberto Côrte Real, um daqueles alvos apontaria o futuro de Roberto Carlos. Ou seja, dependendo da faixa que obtivesse maior aceitação, ele seguiria na linha de João Gilberto ou daria uma guinada de 180 graus para ser um novo Anísio Silva ou ficaria na linha intermediária de Miltinho ou, quem sabe, avançaria na trilha dos brotos legais de Sérgio Murilo. Nesse sentido, o primeiro LP de Roberto Carlos foi uma espécie de laboratório. Hoje seria considerado um álbum eclético, plural, lounge de primeira ordem, mas na época revelou mais a indecisão do estilo do jovem cantor.

Os arranjos do disco ficaram a cargo do maestro paulista Astor Silva, que começou sua carreira como trombonista de dancings. Na década de 1940, ele integrou a Orquestra Tabajara, de Severino Araújo, e, mais tarde, a orquestra do maestro Carioca. Depois de montar seu próprio conjunto e orquestra, Astor Silva acompanhou gravações de cantores como Moreira da Silva, Nora Ney, Emilinha Borba e Elza Soares. Ele entrou na CBS em 1960, para ocupar o cargo de maestro e arranjador-chefe. E foi exatamente nessa dupla função que ele trabalhou no primeiro álbum de Roberto Carlos.

As duas primeiras faixas gravadas foram o chachachá Louco por você (versão
de Careful, careful) e o bolero Não é por mim. Esta uma composição de Carlos
Imperial (em parceria com Fernando César), que traz tudo a que o ritmo tem
direito: congas, maracas, bongôs, orquestra de cordas e piano. Mas, mesmo ali, a
interpretação de Roberto Carlos revela a nítida influência do João Gilberto de Hôba-
lá-lá - a não ser por um importante detalhe.

Logo após a gravação de cada faixa, Roberto Carlos ia ansioso para a mesa de
som ver os resultados. E depois de mais uma audição atenta, ele ficou incomodado
com um trecho da melodia do bolero Não é por mim. A frase "todo o amor que eu
sinto agora", especialmente a palavra final da frase "agora" - soava estranha para
Roberto Carlos. E ele queria refazer a gravação. Mas Carlos Imperial disse que não,
porque estava tudo bem. Alguns músicos que participaram da gravação também
disseram que não viam problema algum. Mas Roberto não se convencia e
continuava incomodado, achando que tinha desafinado naquela passagem da
melodia. Enquanto ele ouvia mais uma vez a gravação, eis que entra na sala da
técnica o cantor Tito Madi, na época um dos contratados da gravadora Columbia.
Ora, ninguém melhor do que seu ídolo Tito Madi para tirar aquela dúvida atroz. E,
humildemente, Roberto pediu para Tito ouvir a faixa e dar o seu parecer. Já um
pouco cansado com aquela insistência, o técnico Umberto Contardi colocou a fita
para rodar mais uma vez. E, depois de ouvi-la, Tito Madi deu o seu veredicto com
segurança: "Roberto, você não desafinou. Você semito-nou um pouquinho. Se
botarem um pouco de eco aí ninguém vai perceber nada". Semitonaré quando um
cantor emite uma nota um pouco fora da nota exata da melodia e, em alguns casos,
dá mesmo para ajeitar isso com um pouco de eco, processo feito na mixagem.

Ainda que um pouco cabreiro, Roberto aceitou a sugestão de Tito. Afinal, era
a palavra de uma autoridade, Tito Madi, autor de Chove lá fora, Carinho e amor e
tantas outras canções que enterneciam o jovem Roberto Carlos. E se Tito Madi
estava dizendo que não havia desafinação, o estúdio da Columbia não ia parar para
refazer tudo de novo por puro capricho e perfeccionismo de um cantor estreante.
Naquele momento não havia espaço nem tempo para isto, e o técnico Umberto
Contardi também não via problema nenhum na gravação. E assim o disco foi liberado 
para prensagem com recomendação de que se colocasse um pouco de eco na faixa 
Não é por mim.

Entretanto, quando o disco saiu e Roberto Carlos foi ouvi-lo, não teve mais
nenhuma dúvida: ele desafinava feio naquele trecho da melodia do bolero. O
cantor ouviu a gravação com outras pessoas e agora todos pareciam concordar: ele
desafinava mesmo. Tito Madi errou. Carlos Imperial errou. Todos erraram. Roberto
Carlos chorou. Caramba, logo na primeira faixa, no seu primeiro álbum, uma desafinação - e não teve eco que desse jeito.

Era uma triste ironia. O cantor que surgiu com a promessa de ser um novo astro da bossa nova, quem sabe um novo João Gilberto, literalmente desafinava - e cantando um bolero típico do repertório de Anísio Silva. É principalmente por causa disso que esse primeiro e histórico LP de Roberto Carlos permanece até hoje excluído dos relançamentos de sua discografia.

Outra coisa que Roberto Carlos não gostou daquele disco foi a capa - porque esta saiu sem a sua imagem. O cantor chegou a posar para várias fotos, mas Roberto Côrte Real considerou que nenhuma ficou suficientemente boa para o disco. "Eu não era fotogênico, estava inibido, não fiquei bem", reconhece o cantor, que na época imaginou que fosse ser chamado para fazer uma nova sessão de fotos.

Entretanto, Côrte Real decidiu lançar o disco sem a imagem de Roberto Carlos,
optando por uma capa temática, que era muito comum na época. Em vez da
imagem do cantor, a capa reproduzia o tema da canção-título - modelo consagrado
a partir da capa do álbum do musical Dançando na chuva. A capa do LP Pensando
em ti, de Nelson Gonçalves, por exemplo, em vez da foto do cantor, mostra uma
mulher solitária, fumando um cigarro e com o olhar perdido... pensando em
alguém. Da mesma forma, a capa do disco Chove lá fora, de Tito Madi, mostra uma
linda jovem sob a chuva. Pois Roberto Corte Real decidiu seguir esse modelo para o
LP Louco por você: a foto da capa mostra a troca de olhares de um rapaz e uma
menina, esta com uma margarida na mão fazendo aquele joguinho de "bem me quer, mal me quer" -loucura de amor para aqueles inocentes anos 60.

Mas, nesse 
caso, a gravadora nem se deu ao trabalho de fazer a produção da capa do disco. Roberto Côrte Real simplesmente mandou surrupiar a foto da capa do LP
Ken Griffin at the organ to each his own, que o organista Ken Griffin gravou para a
Columbia nos Estados Unidos. Como esse disco não foi lançado no Brasil, a filial
aproveitou a foto da capa, apagando as palavras em inglês e colocando o nome de
Roberto Carlos.

Quando o cantor soube que essa seria a capa de seu disco ficou muito
chateado e foi várias vezes falar com o diretor artístico Roberto Côrte Real. "Eu
implorei, pedi, conversei, quase chorei, me coloquei à disposição para uma nova
série de fotos, mas não teve jeito", lembra Roberto Carlos. Côrte Real explicou que o
fotolito já estava pronto e até que fizesse uma outra capa iria atrasar muito o
lançamento do disco. Roberto Carlos teve que se contentar mesmo com aquela capa
temática.

"Eu já sabia, mas foi a maior tristeza quando peguei o LP já pronto e não tinha
a minha foto na capa."

Mas não seria exatamente por causa da capa que o LP Louco por você
deixaria de fazer sucesso. Até porque aquela foi uma capa bonita para a época, com
uma bela foto de um belo e anónimo casal. E, além disso, Côrte Real e Carlos
Imperial usaram de alguns outros truques na produção do disco. No texto de
contracapa, por exemplo, Roberto Côrte Real afirma que Roberto Carlos é um
jovem cantor "nascido aqui mesmo no Rio de Janeiro". Segundo Imperial, este foi
um erro proposital: um cantor jovem carioca - como Sérgio Murilo - venderia mais
do que um cantor interiorano, de uma cidade com nome esquisito, Cachoeiro
de Itapemirim, que na época quase ninguém conhecia. Outro truque foi afirmar
que uma das faixas do disco, o chachachá Linda, seria uma versão de Carlos
Imperial para uma composição do americano Bill Caesar.

Na verdade, este é um autor inventado pelo próprio Imperial por acreditar
que, no caso de música jovem, sendo versão, teria mais chance de sucesso. Afinal, os
grandes sucessos de rock até então, como Estúpido cupido, Diana e Broto legal
eram basicamente versões de autores americanos. Na época não se levava a sério
um rock feito por brasileiro. E esse mesmo Bill Caesar aparece no primeiro disco de
Elis Regina, que Carlos Imperial produziu na Continental, em 1961.
Seria de autoria do americano a faixa Amor, amor, versão de Imperial para
Love, love. Como se vê, anos antes de Chico Buarque criar o fictício Julinho da
Adelaide, por razões muito diferentes, Carlos Imperial já inventava compositores
fantasmas.

Com tudo isso - capa surrupiada de disco americano, cantor interiorano
vendido como carioca, compositor americano fictício -, o primeiro álbum de
Roberto Carlos para a Columbia foi lançado em setembro de 1961, na expectativa de
que poderia realmente abrir um novo caminho para o jovem artista. "O pessoal da
gravadora estava muito otimista e eu ainda mais. Ninguém tinha dúvida quanto ao
êxito do LP", afirma Roberto Carlos.

A divulgação dos artistas da Columbia era comandada por Othon Russo, que
com o tempo se tornaria o mais influente e famoso chefe de divulgação do Brasil.
Na época, ele produzia e apresentava programas exclusivamente com o elenco da
gravadora, que comprava o horário nas emissoras. Um dos programas era Escala
Musical Columbia, reproduzido diariamente em várias rádios do Rio e de São
Paulo; havia também o programa semanal de televisão Columbia no Mundo da
Música, na TV Continental. E em todos eles Roberto Carlos tinha sua divulgação
garantida. Mas ele precisava de mais.

Contando com a ajuda de namoradas, amigas e amigas das amigas, o cantor
montou um esquema de divulgação paralelo que não dava trégua aos disc jockeys.
"Tinha pelo menos vinte garotas que passavam o dia inteiro ligando para as rádios,
pedindo as minhas músicas confessa o cantor. Um dos programas visados era o
Peça Bis pelo Telefone, produzido por Jair de Taumaturgo na Rádio Mayrinki
Veiga. Quando o locutor anunciava Louco por você, as meninas entravam em ação
ligando para a rádio pedindo para tocar a música de novo. O próprio Roberto
Carlos fazia o mesmo, ligando geralmente de um telefone público na farmácia
Pederneira, em frente à sua rua, em Lins de Vasconcelos. Era uma façanha: ligar
rápido, disfarçar a voz, inventar um nome, pedir a música, desligar, ligar de novo
com outra voz e outro nome...

Outro reforço importante foi o do próprio Carlos Imperial, que apresentava o
seu programa Os Brotos Comandam, diariamente na Rádio Guanabara, das cinco
às seis da tarde. Seu programa tinha pouca audiência, mas ele fazia uma grande
onda. "Alô, brotos, eu sou Carlos Imperial. Estou aqui na Rádio Guanabara do Rio
de Janeiro, avenida Darcio de Matos, 23,252 andar, para apresentar o seu, o meu, o
nosso programa, porque eu, você, nós gostamos de música jovem, nós gostamos de
Rooooberto Carlos..." E botava para rodar o disco Louco por você.

Por conta de todo esse trabalho de divulgação, em outubro de 1961 a faixa
Louco por você acabou despontando nas paradas, mas, como não era um sucesso
espontâneo, o LP vendeu apenas 512 cópias. O público ouvia no rádio, mas não
tinha interesse em comprar o disco. Em consequência, Roberto Carlos não recebia
propostas de shows - nem mesmo em churrascarias. Uma das poucas
oportunidades era acompanhar a caravana do locutor Luis de Carvalho, da Rádio
Globo, que saía com um grupo de artistas iniciantes percorrendo subúrbios e
cidades do interior do Rio de Janeiro. Ainda assim, isto não era garantia de público,
como ocorreu num clube no bairro de Cor-dovil, no final de 1961. 

Foi um show mal organizado, à noite, no meio de semana e sem nenhuma grande
atração. Resultado: 
quando Roberto Carlos subiu ao palco, havia apenas três pessoas 
na plateia - uma delas era Wan-derléa, uma garota de dezesseis anos que foi ao espetáculo porque morava perto do clube e queria conhecer Luis de Carvalho. Acabou conhecendo também Roberto Carlos, que naquela noite cantou Mister Sandman, faixa de seu primeiro LP. "Quando ele entrou no palco não parecia estar se importando se
havia muito público ou ninguém. Cantava com introspecção, como se fosse para a
amada dele que estivesse ali. Roberto me cativou com a interpretação dele em
Mister Sandman. Gostei dele", diz Wanderléa.

Como o salão estava vazio, o cantor não teve dificuldade em avistar
Wanderléa, que ficou bem próxima do palco. Depois do show, ele a chamou para
conversar, enquanto fazia um lanche no barzinho do clube. Nesse papo, Roberto
Carlos ficou sabendo que Wanderléa também gostava de cantar, sonhava em
gravar um disco e seguir a carreira artística. O pessoal da caravana já estava no
ônibus chamando Roberto Carlos para ir embora, e ele ali, comendo uma coxinha
de galinha, na maior prosa com Wanderléa. Alguém chamou o cantor mais uma
vez, insistindo que o ônibus já estava de partida. Roberto Carlos atendeu, mas,
antes de embarcar, ele puxou Wanderléa e sapecou-lhe um beijo na boca, para
espanto da adolescente. "Foi realmente um beijo roubado, de surpresa, eu não
estava esperando." Ousado este Roberto Carlos, não? Ainda mais sabendo que no
momento do beijo ele estava devorando uma coxinha de galinha. "Prefiro dizer que
era um sanduíche, porque fica melhor do que coxinha de frango. O beijo teve um
sabor salgado, gorduroso", recorda a cantora. No ano seguinte, Roberto Carlos e
Wanderléa voltaram a se encontrar, quando ela foi contratada para também gravar
um disco na Columbia. A partir daí, estreitaram a amizade e até engataram um
romance - que durante muito tempo tentaram negar. 

Trechos da biografia "Roberto Carlos e Detalhes", páginas: 90 a 95

Disco ripado no toca discos Technics SL-1410, com cápsula Ortofon 2M Red, placa de som Creative, além de um tratamento no áudio, tendo o cuidado de limpar os ruídos e chiados das faixas (Plugins Waves, Izotope RX 2) sem degradar a qualidade do áudio.

Arquivo em FLAC, 16 bits, 96 Khz (242 MB) 

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Postagem de outros estilos musicais


Aos amigos que acompanham o blog, eu
vou 
começar a postar outros estilos de música para servir como um estímulo constante de postagens, e também que o blog não fique longos períodos sem postagens. Mas a "essência" original do blog será mantida!

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

The Fevers - 2018 - Os Primeiros Anos (CBD/Philips)




The Fevers - Os Primeiros Anos (CBD/Philips) - 2018
FLAC (Tracks) Level 8
Bitrate: (630 a 703 kbps convertidos dos arquivos originais em Wav pelo Foobar 2000)
Tamanho Total: 123 MB

Ps: Sou colecionador de discos dos Fevers e durante esse anos de garimpo consegui os 3 primeiros compactos gravados na Philips (CBD). O áudio foi extraído por uma cápsula Ortofon 2M Red, toca discos Technics SL-1410 e placa de som da Creative. Limpei chiados e ruídos com o máximo de cuidados para não degradar a fonte original, talvez a música que fique um pouco da qualidade, se comparar ao restante do conteúdo, seja "Não Vivo Na Solidão", porque era a faixa que tinha um desgaste maior. No fim, áudios e equalizados e com um pouco de compressão pra dar um peso no som. Sei que existe as versões remasterizadas de "Wooly Bully" e "Não Vivo Na Solidão", mas fugiria da proposta original, que seriam as gravações em Mono.

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Álbum restaurado e convertido em FLAC.

Jorge Ben - 1963 - Samba Esquema Novo (Lp Mono 1963) Philips - P 632.161 L